domingo, 31 de maio de 2009

NEGRITUDE

Em nossa última aula da disciplina de questões étnico-raciais,emocionei-me com o relato da colega Márcia ao dizer o quanto era difícil,para um negro,falar sobre sua negritude,remexer em suas raízes numa sociedade carregada de preconceitos.Ela fez-me lembrar de um professor da faculdade de Joaçaba , Santa Catarina, onde estudei.
Era o ano de 2002 e fazia uma cadeira de Antropologia,no curso de Pedagogia.A turma foi dividida em grupos para Apresentação de Seminário,após leitura de livros indicados pelo professor.Lembro que escolhi o livro:Raça,conceito e preconceito,da autora Eliane Azevêdo.
No dia da apresentação,o professor da disciplina trouxe um colega negro que sentou-se no fundo da sala para assistir minha aula.
Fiquei constrangida,não sabia quem ele era e durante toda a explanação ficava com receio de dizer algo que pudesse fazê-lo sofrer,melindrá-lo,afinal,um branco falar sobre este tema tendo como ouvinte uma pessoa negra,que pertence a um grupo étnico do qual se estava falando,é uma situação nada fácil!
De repente,percebi que de seus olhos corriam algumas tímidas lágrimas.Ninguém percebeu,pois ele estava sentado no fundo da sala,só eu estava de frente para ele.Confesso que tive vontade de parar,mas como ele não saiu da sala,conclui qua as lágrimas tinham um outro significado.
No final,ele se apresentou para a turma e disse da emoção que sentiu ao ouvir-me falar.A mesma emoção da colega Márcia.
Disse a nós que,todos os dias, precisava "prestar contas"de quem era.Era difícil as pessoas acreditarem que um negro pudesse ser professor universitário.
Pensei o quanto deve machucar um ser humano que precisa mostrar a sociedade,todos os dias,que também é capaz!
Seu depoimento,naquela noite,foi um fechamento perfeito para a aula que dei e para maior sensibilização da turma.Quando ouvi minha colega do Pead fazer seu pronunciamento,foi como lembrar daquela noite e do quanto os negros,apesar de tantas mudanças,ainda sofrem.